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A IRMÃ DE LEITE DA PRINCESA
romance publicado todos os domingos em episódios sequenciais
autor: Jorge Francisco Martins de Freitas
Episódio 25
A 6 de maio de 1883, a mansão dos Marinhais amanhece profusamente engalanada.
Maria Isabel havia aumentado quase para o dobro a superfície ocupada por esta sua propriedade, graças à aquisição de um terreno contíguo que permitiu a construção de uma nova ala na casa senhorial e a ampliação dos jardins.
De madrugada, uma carroça tinha-se deslocado ao Mercado da Ribeira, inaugurado a 1 de janeiro do ano anterior, a fim de adquirir produtos hortícolas e outros géneros alimentícios para o grande banquete que se iria realizar nesse dia, para comemorar o casamento de Diogo com Madalena.
Por volta do meio-dia, começam a chegar à mansão inúmeros coches e charretes com os convidados.
A cerimónia do matrimónio decorre no recém-inaugurado Salão Nobre da mansão, presidido por um elemento do Registo Civil.
Para além de Consiglieri Pedroso, padrasto de Madalena, estão presentes outras figuras do Partido Republicano.
O príncipe D. Carlos é o único elemento da monarquia que surge neste evento, dada a ligação que tem com Maria Isabel, sua perceptora e madrinha do noivo.
As funções de padrinho da noiva são desempenhadas por Teófilo Braga, futuro Presidente da República Portuguesa, na altura com quarenta e cinco anos de idade. Tal como Alfredo, dá aulas no Curso Superior de Letras. Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra desde 1868, esta eminente figura da História de Portugal é, para além de político, sociólogo, filósofo e ensaísta; um poeta, tendo publicado, em 1859, o livro Folhas Verdes. É, igualmente, um dos colaboradores do magazine Galeria Republicana, editado entre 1882 e 1883.
As amizades de Maria Isabel sempre se situaram em mundos oponentes, instituindo-se como um elemento charneira entre ambos. Na infância, conseguiu conviver socialmente tanto com a simplicidade das gentes do povo, de onde era originária, como igualmente com a ostentação da nobreza. Na idade madura, mercê das suas múltiplas vivências e da leitura de textos oriundos de inúmeras vertentes políticas e filósofas europeias, consegue ser aceite tanto por monárquicos como por republicanos.
Revista de Estudos Livres
Em 1883, é publicado o primeiro número da Revista de Estudos Livres, com periocidade mensal.
Alicerçada na filosofia positivista, foi editada conjuntamente tanto em Portugal como no Brasil.
Foram seus diretores Teófilo Braga, Teixeira Bastos, Américo Brasiliense, Carlos von Koseritz, e Sílvio Romero, os três últimos cidadãos brasileiros.
Esta revista tinha por objetivo a «aplicação dos eternos princípios da liberdade intelectual, moral e política aos acontecimentos atuais, para os julgar e poder deduzir deles as condições do progresso».
Conhecidas figuras da cultura portuguesa intervieram nesta publicação, nomeadamente Luciano Cordeiro, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão e, pelo lado brasileiro, Argemiro Galvão, Clóvis Beviláqua, José Isidoro Martins Júnior e Tobias Barreto.
Maria Isabel foi uma assídua leitora desta revista, possuindo na biblioteca da sua mansão todos os exemplares publicados até 1886.
Jardim Zoológico de Lisboa
Criado por uma associação de homens dedicados ao progresso do país, é inaugurado, a 28 de março de 1884, em São Sebastião da Pedreira, o Jardim Zoológico de Lisboa, ocupando uma vasta quinta oferecida por D. Maria das Dores de Almeida Pinto, viúva do abastado proprietário José Maria Eugénio de Almeida.
O local escolhido para acolher este «estabelecimento científico», é considerado, na altura, o mais adequado, pois, para além da sua vastidão, ocupa uma área praticamente plana, apenas com uma suave inclinação, e já se encontra arborizado, contribuindo para refrescar as cálidas tardes que normalmente assolam a capital do país.
Sua Majestade, o Rei D. Luís I, acompanhado do pai D. Fernando e do filho D. Afonso, marca presença nesta inauguração.
Muitas damas da alta sociedade portuguesa, como a Marquesa de Marinhais, estão presentes, assim como ilustres cavalheiros das ciências e das letras.
Inúmeros animais suscitam a curiosidade e a admiração dos visitantes como um casal de ursos pretos, uma girafa, um casal de texugos, um porco espinho, renas, tucanos, javalis, inúmeros macacos e aves em gaiolas. O jardim ainda possui poucas árvores de outros continentes, mas, em breve, se iniciará o seu transporte para este local.
No dia seguinte, o Jardim zoológico abre as portas ao público, custando cada ingresso 100 reis.
Nos primeiros dias, os visitantes foram reduzidos, pois a maioria dos lisboetas preferia ir visitar a Exposição Agrícola de Lisboa, na Tapada da Ajuda, recentemente inaugurada.
Museu de Arte Antiga, em Lisboa
No ano de 1884, Portugal vê nascer estabelecimentos de ensino secundário que perduram até aos nossos dias: Afonso Domingues e Marquês de Pombal em Lisboa; Alberto Sampaio, em Braga; e Jácome Ratton, em Tomar. Inúmeras escolas primárias, tanto públicas como privadas, vão igualmente surgindo um pouco por todo o país. A Escola Marquesa de Marinhais continua a constituir uma referência no panorama educacional, possuindo uma vasta biblioteca aberta a todas as comunidades estudantis.
Tanto as bibliotecas públicas como as escolares recebem cada vez mais visitas. De acordo com número 19 da revista de instrução primária Froebel, editada em abril desse ano, só nas bibliotecas da Câmara Municipal de Lisboa foram requisitados para leitura 18 629 livros, dos quais 1 876 eram sobre ciências, 230 relativos a Artes e Ofícios e 11 523 continham textos literários, sobretudo romances.
Ainda no campo da Cultura, as alunas da escola de Maria Isabel foram das primeiras a visitar, no Palácio das Janelas Verdes, o Museu Nacional de Belas Artes e Arqueologia, atual Museu Nacional de Arte Antiga, aberto ao público a 11 de maio desse ano. Até 26 de janeiro de 1873, este edifício albergava D. Amélia de Leuchtenberg, viúva de D. Pedro, primeiro imperador do Brasil e rei de Portugal.
Quermesse na Tapada da Ajuda
Entre 17 e 19 de maio de 1884, realiza-se, na Tapada da Ajuda, uma quermesse organizada pela Rainha D. Maria Pia a favor da Associação das Creches, imediatamente apoiada por toda a corte.
70 000 pessoas entraram neste evento, que se transformou numa festa popular.
A Marquesa de Marinhais deu o seu contributo, disponibilizando um pavilhão onde amáveis senhoras vendiam rifas sorteando, entre outros produtos, garrafas de vinho do Porto oriundas das suas vinhas do Douro.
© Jorge Francisco Martins de Freitas, 06-11-2022.
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