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A IRMÃ DE LEITE DA PRINCESA



romance publicado todos os domingos em episódios sequenciais
autor: Jorge Francisco Martins de Freitas

Episódio 20

Alguns dias depois de ter celebrado vinte anos de idade, Maria Isabel dirige-se à Escola Marquesa de Marinhais, por ela fundada em julho de 1863, a fim de entrevistar diversos candidatos a um lugar de professor, pois os sete mestres que constituem o corpo docente já se revelam insuficientes para ensinar as duzentas e trinta e cinco alunas que frequentam este estabelecimento de ensino particular.

A irmã de leite da princesa vinha experimentando muitas dificuldades para convencer os pais das suas pupilas a deixá-las estudar, pois estes precisavam delas para tomar conta dos irmãos mais novos e para realizar tarefas domésticas.

Para além de ter de as alimentar, vestir e calçar, vê-se ainda obrigada a subsidiar as famílias pobres de onde estas eram originárias.

Entre todos os aspirantes ao cargo, a atenção da proprietária da escola recai, de imediato, sobre um jovem detentor de revoltos cabelos castanhos, emoldurando uns penetrantes olhos da mesma cor que aparentam olhá-la com doçura.

A marquesa decide chamá-lo ao seu gabinete em primeiro lugar, não conseguindo esconder quanto ficara encantada com o atraente aspeto que este ostenta.

— Como se chama? – pergunta Maria Isabel.

— Informo vossa senhoria que me chamo Geraldo – responde o candidato, com um aberto sorriso que vinca duas pequenas covinhas no seu angelical rosto.

— Já tem experiência como professor?

— Não, nunca dei aulas. Estou a frequentar o primeiro ano do Curso de Letras e preciso de um emprego para pagar os estudos.

A marquesa pensa em admiti-lo de imediato, mas a consciência dita-lhe que optar por um novo mestre com base na sua boa aparência não constitui um procedimento moralmente aceitável, pelo que decide entrevistar igualmente os outros candidatos, para realizar uma escolha acertada.

Verifica que, apesar de estes já terem dado aulas, possuem menos estudos que Geraldo, levando-a a considerar ser uma boa razão para aprovar o estudante universitário.

Conduzido novamente à sua presença, esta diz-lhe:

— Tenho o prazer de lhe comunicar que optei por vossa senhoria para dar aulas na minha escola.

— Agradeço muito – responde o jovem, esboçando um atraente sorriso. — Tentarei estar à altura das tarefas que me forem imputadas.

Palácio de Cristal

Desde 1861, vem sendo construído, na cidade do Porto, o Palácio de Cristal, um vistoso edifício em granito, ferro e vidro.

Feito à semelhança do famoso Crystal Palace, edificado em Londres para a realização da Exposição Universal de 1851, é menos volumoso do que este, sendo constituído por três naves totalizando 150 metros de comprimento e 72 de largura.

Inicialmente, era destinado a albergar apenas pequenas exposições agrícolas, industriais e artísticas.

A 7 de julho de 1864, numa reunião de acionistas deste palácio, realizada no edifício da Bolsa do Porto, António Ferreira Braga e Alfredo Allen sustentam a ideia de ali se realizar uma exposição internacional. A maioria dos presentes considera a ideia utópica, mas estes não desistem, envolvendo no projeto, para além da Associação Industrial Portuense, o político José Joaquim Gomes de Castro, 1.º Conde de Castro, que se compromete a prestar todo o seu apoio.

A 8 de julho de 1865, realizam-se Eleições legislativas em Portugal. A Comissão Eleitoral Progressista, coligando regeneradores e históricos, elege 130 deputados e a Anti Comissão Eleitoral Progressista 47.

Joaquim Augusto de Aguiar, político indigitado para formar o 27.º governo da Monarquia Constitucional, nomeia o 1.º Conde de Castro, na sua qualidade de militante do Partido Regenerador, para assumir o cargo de Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, o que permite a José Joaquim Gomes de Castro obter o indispensável apoio dos poderes públicos para a realização da Exposição Internacional do Porto.

Vista aérea do Palácio de Cristal

A 18 de setembro de 1865, esta exposição internacional – a primeira realizada na Península Ibérica – é inaugurada por D. Luís I e sua esposa D. Maria Pia, acompanhados do antigo rei-regente D. Fernando, do infante D. Augusto e da Marquesa de Marinhais, levando pela mão o príncipe D. Carlos que fará dois anos de idade dentro de dez dias.

A comitiva real começa a visita pela nave central do Palácio de Cristal, local onde António Ferreira Braga, na sua qualidade de presidente da direção deste edifício, pronuncia o discurso inaugural. D. Luís I, em breves palavras, felicita todos os que contribuíram para a realização deste evento em Portugal.

3 139 expositores marcam presença neste certame: 499 franceses, 265 alemães, 107 britânicos, 89 belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis e 16 dinamarqueses, para além de representantes da Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos e Japão.

Inicialmente, os países intervenientes não esperavam que esta exposição tivesse grande êxito, habituados que estavam às suas grandiosas congéneres realizadas em cidades como Paris e Londres; mas, em breve, a sua fama chega à Europa Central, levando algumas nações a melhorarem o conteúdo dos seus expositores, por se considerarem deficientemente representadas. A França, por exemplo, completa a sua presença com excelentes quadros a óleo e a Itália envia 48 estatuetas e bustos esculpidos em mármore de Carrara.

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A 5 de setembro de 1865, Maria Isabel escreve mais uma carta à sua irmã de leite:

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Em dezembro de 1865, surge, no Palácio de Cristal, a primeira Árvore de Natal erigida num espaço público em Portugal, decorada com bolas e velas multicolores, brinquedos, algodão em rama, balões e fitas douradas e prateadas.


© Jorge Francisco Martins de Freitas, 2-10-2022.
Proibida a reprodução sem autorização prévia do autor.


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