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A IRMÃ DE LEITE DA PRINCESA
Romance publicado todos os domingos em episódios sequenciais
Autor
Jorge Francisco Martins de Freitas
Episódio 11
Maria Isabel desde muito cedo revelara possuir uma inata queda para a poesia. Assim que aprendeu a ler e a escrever, começou a construir estrofes de quatro versos com rimas muito simples. À medida que acompanhava nos estudos D. Antónia e os outros príncipes, foi adquirindo uma maior competência linguística, passando a escrever poemas cada vez mais elaborados.
D. Fernando II e outros elementos da corte expressavam-se em diversos idiomas, nomeadamente alemão e francês, o que facilitava a aprendizagem dessas línguas por parte dos infantes e da própria Maria Isabel que se tornaria grande apreciadora da obra de François-René de Chateaubriand, lendo diretamente os seus poemas em francês, a língua internacional da época.
A partir dos 13 anos de idade, era frequente vê-la nos saraus culturais realizados no Palácio das Necessidades, lendo, para a família real e, por vezes, para elementos da nobreza, poemas da sua autoria ou de consagrados poetas, tanto nacionais como estrangeiros.
Num desses eventos, o Marquês de Marinhais foi um dos convidados. Após Maria Isabel ter declamado, com profunda emoção, o poema da sua autoria O Pai, no qual expressava uma profunda tristeza por não ter conhecido o progenitor nem a família a que este pertencia, as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto do aristocrata, incentivando-o a dirigir-se, pela primeira vez, à sua neta:
— Boa tarde, Maria Isabel! Tenho muito gosto em me apresentar: chamo-me Luís Xavier Mascarenhas de Noronha e sou o segundo Marquês de Marinhais.
— É para mim uma honra conhecer vossa senhoria! – responde, com delicadeza, a irmã de leite da princesa D. Antónia.
— Desejo expressar a minha admiração pelas qualidades literárias que demonstra possuir. Eu também sou um grande apreciador dos poetas que tão bem sabe interpretar e fiquei encantado com o seu poema O Pai!
— Agradeço muito as gentis palavras que vossa senhoria me está a dirigir!
— Não necessita agradecer. Elas correspondem exatamente àquilo que eu penso da menina!
O marquês retira-se, encantado com a formosura, delicadeza de trato e cultura que a sua neta demonstra possuir. Não tem ainda coragem de se apresentar como seu ascendente, mas, naquele momento, dissipa todas as dúvidas que até aí tivera: ela era digna de herdar o seu título de nobreza e as propriedades que possuía.
D. Pedro V
Sua Majestade D. Pedro V, Rei de Portugal e dos Algarves, havia atingido, no ano anterior, a idade de vinte anos, estando na altura de o casar com uma primorosa princesa que lhe desse descendência.
A Rainha Vitória, soberana do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, prontifica-se a contactar outros reinos europeus governados por familiares seus, no sentido de obter a tão desejada esposa.
A escolha recai sobre D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, nascida em Krauchenwies, a 15 de julho de 1837.
Esta princesa, apenas dois meses mais velha que o rei de Portugal, aliava um encanto natural a uma cuidada formação cultural.
Era a filha mais velha de Carlos António, Príncipe de Hohenzollern-Sigmaringen, e de sua esposa, a princesa Josefina de Baden, sendo, por conseguinte, irmã do rei Carlos I da Roménia e tia do rei Alberto I da Bélgica.
Quando D. Estefânia tinha onze anos de idade, o pai entregou o seu principado ao rei da Prússia, mudando-se, com a família, para o Palácio de Jägerhof, em Düsseldorf.
O casamento entre ambos efetua-se, por procuração, a 8 de dezembro de 1857. D. Pedro V é representado pelo Conde do Lavradio e o rei da Prússia, Frederico Guilherme IV, líder da casa de Hohenzollern, é representado pelo ministro Luís de Massow.
A 29 de abril do ano seguinte, realiza-se a cerimónia religiosa na igreja de Santa Edviges, em Berlim. Desta vez, D. Pedro V é representado pelo príncipe Leopoldo de Hohenzollern-Sigmaringen, irmão da nubente.
A 3 de maio, acompanhada de Leopoldo e de Frederico, irmão de leite deste último, D. Estefânia parte de Düsseldorf, chegando, por via-férrea, a Ostende. Nessa cidade da Flandres Ocidental banhada pelo Mar do Norte, embarca no vapor Mindelo, rumo a Plymouth, na Inglaterra. A corveta Bartolomeu Dias já ali se encontra à sua espera, para a levar rumo a Portugal.
D. Estefânia
Chegam a Lisboa a 17 de maio.
A cidade vinha sendo fustigada, havia algumas horas, por uma intensa tempestade, mas, na manhã daquele dia do ano de 1858, o vento amaina e o sol rompe entre as nuvens, aparentando estar a desejar as boas-vindas à jovem rainha consorte de Portugal.
Assim que a corveta fundeia em frente ao Terreiro do Paço, um bergantim real transporta D. Estefânia e os seus dois acompanhantes para o Cais das Colunas, solenemente engalanado.
D. Pedro V, acompanhado do pai, espera pela noiva num vistoso pavilhão erguido no dia anterior, enquanto a banda da Guarda Real executa majestosas marchas.
Assim que os noivos finalmente se encontram, sorriem abertamente. Tinham ambos uma excelente presença física, eram cultos e o mais importante de tudo, estavam na flor da sua juventude, tendo toda uma vida para melhor se conhecerem.
D. Pedro V não tinha poupado nas despesas para proporcionar à esposa sumptuosos aposentos no Palácio das Necessidades, tendo mandado vir de Paris elegantes móveis, luxuosas carpetes, um vistoso candeeiro e coloridos tecidos para os cortinados e o forro dos estofos.
No dia seguinte, o casamento é ratificado na Igreja de São Domingos, pelo Cardeal-patriarca de Lisboa, estando presente toda a família real, inúmeros nobres, embaixadores e, como não poderia deixar de ser, a irmã de leite da princesa.
No percurso que o cortejo nupcial faz até ao Palácio das Necessidades, onde irá ser servida a boda, os noivos são apoteoticamente aclamados por milhares de populares que não querem perder a oportunidade de presenciar o par real.
Maria Isabel e D. Antónia, elegantemente vestidas, têm dificuldade em esconder a alegria que sentem: estão autorizadas a participar, juntamente com os adultos, no baile em honra de D. Estefânia, que se realizará, nessa noite, na Sala de Banquetes.
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© Jorge Francisco Martins de Freitas, 31-07-2022.
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